domingo, 4 de outubro de 2009

Review de Guitar Hero 5 para Wii

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Guitar Hero 5 é a quinta entrega completa da série. Mas se formos contar jogos
específicos de uma banda, “track packs” e as versões para DS, esse número
aumenta bastante. A série segue o mesmo padrão de sua rival Rock Band: com o
auxílio de instrumentos de plástico (guitarras e bateria) e de um microfone USB,
os jogadores podem emular o desempenho de uma banda composta por vocal,
guitarra, baixo e bateria. As “notas” são emuladas por botões coloridos que vão
descendo por uma pista. O jogador deve tocar a nota correspondente a essa cor
quando o botão cruza a barra de fim da pista. No caso dos vocais, a pista é
constituída de uma trilha horizontal com os tons marcados por linhas e a letra
correndo simultaneamente à trilha.

Esta nova entrega tem algumas novidades. A melhor delas é que todas as músicas
estão disponíveis desde o começo. Sempre foi um pé no saco ter de passar pelo
modo Career para desbloquear tudo. Falando no modo Carreira, a estrutura foi
ligeiramente modificada, ficando muito parecida com o modo World Tour de Rock
Band. Agora, os novos shows e arenas são desbloqueados de acordo com as estrelas
obtidas nos shows. Além disso, foram criados os Song Challenges. São desafios
específicos para as músicas, que oferecem alguns itens desbloqueáveis. O
principal problema é que esses desafios são muito “direcionados” - os desafios
de cada música são específicos para um instrumento. Por exemplo, o desafio de
“Fame” é específico para vocal. Se você apenas toca guitarra, não pode passar
desse desafio.

Na jogabilidade, uma interessante modificação foi a forma como passou a ser
tratada a questão da falha de um membro da banda. Em World Tour, se um membro
falhava, a banda inteira caía. Agora, se um membro falha, aparece na tela um
medidor de Band Revival. Os demais membros têm que conseguir uma boa performance
para conseguir encher o medidor e, assim que ele chega ao topo, o membro que
caiu volta a tocar. Uma alternativa bastante interessante ao uso de overdrive de
Rock Band.

Os modos multiplayer são os de sempre (quickplay, batalha…). A grande novidade é
a opção Momentum, onde a dificuldade de cada jogador varia de acordo com sua
performance - se você tem a performance boa, a dificuldade aumenta; se você
começa a falhar muito, a dificuldade diminui.

Além disso, existe o modo Party Play. Ao apertar um botão na tela de início, o
jogo entra em um modo “jukebox”, tocando as músicas na sequência. A qualquer
momento, um jogador pode pegar um controle e começar a tocar o instrumento que
desejar, escolhendo as opções sem parar a música e podendo abandonar a qualquer
momento. Interessante, mas meio bizarro.

Também é bizarra - mas sem ser interessante - a principal mudança na
jogabilidade: não existe mais a limitação de guitarra-baixo-bateria-vocal na
formação dos grupos, em nenhum modo. Você quer jogar com mais três amigos o modo
Carreira, mas ninguém quer cantar e todo mundo quer jogar guitarra? Seus
problemas acabaram! Vocês podem todos tocar a mesma linha de guitarra ao mesmo
tempo! Qualquer combinação de quatro jogadores pode ser usada - desde que os
instrumentos necessários estejam disponíveis, obviamente.

O criador de músicas GH Tunes foi reformulado. Depois de ter sido colocado meio
que às pressas em World Tour, agora está muito mais completo e complexo. Claro
que a qualidade sonora não passa de um MIDI, mas é uma opção bastante
interessante para quem quer criar sua própria música.

O Wii tem dois modos exclusivos. Mii Freestyle volta do World Tour: você usa seu
Mii para tocar livremente com seu instrumento. O jogo te dá uma sugestão de
acordo com o estilo que você escolher (rock, blues ou metal), mas você pode
tocar como quiser. Pode também salvar a sua performance e inclusive o notechart
que você “criou” para tocá-lo depois.

O outro modo exclusivo, Roadie Battle, é fantástico. É um modo batalha onde
podem jogar até quatro pessoas, duas no Wii e duas usando Nintendo DS. Elas se
dividem em dois grupos, cada um composto por um jogador de Wii e um de DS. O
jogador de Wii é o guitarrista, enquanto o jogador de DS é o seu roadie. Os
guitarristas duelam, de maneira semelhante ao modo Pro Faceoff. Enquanto isso,
os roadies devem duelar, sabotando a performance do oponente enquanto tentam
reparar os danos causados pelo adversário. As sabotagens se refletem no que os
guitarristas estão tocando. Assim, sabotar o amplificador faz com que o
notechart comece a piscar; estourar o volume ativa hyperspeed; sabotar os
efeitos de fumaça reduz a visibilidade do notechart. É possível inclusive
sabotar o “encordoamento” do oponente para ativar “lefty flip” (apesar de ser um
ataque demorado de executar e simples de consertar). Absolutamente genial.

Como vocês podem ver, existem pontos fortes no jogo - além do mais, a seleção de
85 músicas é bastante boa. Tem até Superstition do Stevie Wonder - mas também
tem Bring The Noise do Public Enemy, ninguém é perfeito… Então por que dizem que
eu odeio o jogo?

Por um bom motivo: pela hipocrisia e falta de respeito que a Neversoft demonstra
com o material em questão - que é a mitologia do rock. Quando a Harmonix criou o
Guitar Hero original - e seu concorrente Rock Band, depois que perdeu o comando
da franquia quando foi comprada pela MTV Games - ela criou a guitarra de
plástico como um meio de aumentar a sensação de controle do jogador, fazer ele
sentir como se estivesse tocando uma guitarra de verdade. Claro que tocar uma
guitarra com uma “corda” e sem poder mover a mão para os acordes não é a mesma
coisa, mas ela sempre teve o cuidado de criar seus notecharts para fazer o
jogador colocar a mão em posições de acorde semelhantes às reais - em outras
palavras, ela quer que você “toque” o instrumento.

A Neversoft faz com que você toque a música. Parece a mesma coisa, mas não é. A
coisa mais normal nos Guitar Hero da Neversoft é colocar teclados e pianos na
pista de guitarra. No GH5, Sympathy For The Devil e Superstition são os exemplos
mais explícitos. Quando a Harmonix faz isso (como fez em The Beatles: Rock
Band), continuo não gostando, mas ela pelo menos coloca instrumentos minimamente
similares - sitar indiano na guitarra, por exemplo. Além disso, muitas vezes
você é forçado a tocar notas quando a música tem uma batida, mesmo que não haja
guitarra - não consegui identificar nenhum exemplo nesta entrega, mas em Guitar
Hero Metallica você toca notas de guitarra em partes onde há apenas bateria,
como em Sad But True.

A dificuldade também é um problema. A vantagem sobre Rock Band é que a
dificuldade média é mais equilibrada (em outras palavras, não é tão
ridiculamente fácil), o que faz com que o salto para o difícil e o botão laranja
não seja um golpe tão forte. No entanto, a partir dessa dificuldade o acúmulo de
acordes inexistentes é absurdo. Como a engine de Guitar Hero é mais leniente que
o de Rock Band, tendo uma janela de acerto (tempo de tolerância para acertar a
nota quando ela passa pela barra) maior do que a dos jogos da Harmonix, a
Neversoft tenta compensar com um “overcharting”, enchendo o notechart de botões
e criando sequências que simulam tanto uma guitarra quanto uma partida de Genius
na dificuldade mais alta.

Para completar, por algum motivo, a Neversoft modificou a detecção de hammer-
ons/pull-offs - as notas “menores”, que você pode tocar simplesmente apertando o
botão da mesma cor, sem tocar a “corda”, desde que você tenha tocado
corretamente a nota inicial da sequência. Antes um HOPO podia ser tocado como
uma nota normal (Rock Band funciona assim). Agora, para acertar, você não pode
tocar a corda, apenas apertar o botão. Ou seja, se você está jogando nas
dificuldades altas e erra a primeira nota de uma sequência longa de HOPO’s, até
que essa sequência termine você não pode fazer nada a não ser ver como seu
medidor vai esvaziando rapidamente…

Além disso, toda a ambientação de estádios com fogos de artifícios, dragões e o
escambau é exagerada, inclusive aqueles personagens clichezaços, como o punk com
um moicano de 60 centímetros, o refugo do Kiss com poderes psíquicos, a riot
grrl mal maquiada, o robô… O pessoal da Neversoft deve ser aquele tipo de gente
que vê This Is Spinal Tap e não entende que, debaixo da sátira e do chichê,
existe o respeito. Vários desses personagens existiam no Guitar Hero original,
sim, mas não eram exagerados ao ponto em que estão agora. E o que é possível
fazer com ícones como Santana, Kurt Cobain e Johnny Cash, usando-os como skins
para personagens e possibilitando seu uso como qualquer coisa e para qualquer
música, é algo que fala por si só.

Guitar Hero 5 é um grande jogo, especialmente a versão do Wii (que inclui o
Roadie Battle, que por si só já justificaria a compra). No entanto, é um “jogo
de rock” apenas por conta da música - poderia usar serrote-martelo-furadeira em
vez da guitarra-baixo-bateria, chamar-se “Marceneiro Hero” e o coração do jogo
não mudaria nada. O software transforma a guitarra em um simples controle, os
notecharts não passam a mesma sensação de tocar um instrumento que existe na
franquia concorrente. Ter colocado o Party Play e a possibilidade de se passar
as músicas com a combinação de instrumentos que se desejar são coisas que acabam
refletindo bem essa filosofia. Rock Band e Guitar Hero são dois jogos muito
bons, cada um com seus pontos fortes e fracos. Mas enquanto Rock Band é um jogo
de rock, Guitar Hero é apenas um jogo.

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